Para não confundir cavalo com ferradura

por Plinio Calenzo

Estava com amigos e conversamos a respeito da mudança que está acontecendo com os motores americanos de raiz. Entretanto, surgiram diversas perguntas acerca das alterações no eixo do comando de válvulas. É justamente para não confundir cavalo com ferradura que vamos aprofundar nossa conversa hoje. Ambos os eixos de manivela e os eixos do comando de válvula são essenciais para o bom funcionamento de motores a pistão de combustão interna, embora tenham funções práticas completamente diferentes.

O eixo de manivela funciona conectado na biela do motor que, por sua vez, está conectada ao pistão. O movimento do pistão, então, faz o eixo de manivela girar e transforma a energia térmica da combustão em energia cinética.

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Por sua vez, o eixo do comando de válvula não se conecta diretamente à biela ou ao pistão e tem como função principal abrir e fechar as válvulas de admissão e descarga dos motores.

Todos os motores à combustão interna possuem, ao menos, uma válvula de admissão e uma válvula de descarga, comandadas pelo eixo do comando de válvulas, que gira abrindo e fechando-as. A válvula de admissão insere a mistura de ar e combustível na câmara do cilindro. A válvula de escape, por sua vez, permite que os gases queimados e os produtos da combustão sejam expelidos do cilindro.

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As válvulas dos motores sempre foram um tópico acalorado para os amantes de carros, visto que, o número de válvulas costuma refletir o desempenho do motor, mesmo que isso não seja uma regra. Como já vimos, cada cilindro tem, pelo menos, duas válvulas; todavia, a engenharia mecânica desenvolveu motores com mais válvulas por cilindro, a Audi, por exemplo, produz motores com 4 cilindros e 20 válvulas, ou seja, 5 válvulas por cilindro. Contudo, em contraste, também temos os motores HEMI da Dodge, que produz 852HP em seu motor V8, só possuem duas válvulas por cilindro, o que não compromete em nada o desempenho do motor. Na verdade, tudo depende da abertura e fechamento dessas válvulas.  

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Os carros podem ter um ou mais de um comando de válvula, dependendo do diâmetro desses comandos eles permitem que as válvulas fiquem abertas mais ou menos tempo. Quando válvulas de admissão ficam mais tempo abertas elas permitem entrada de mais ar e combustível na câmara do cilindro, o que propicia maior potência durante a queima da mistura. Em contrapartida, válvulas de admissão abertas por muito tempo não traz somente benefícios, visto que desperdiçam muito combustível, o motor ainda pode perder a marcha lenta, além das queimas de descarga, o famoso “estouro”, por vezes seguido de labaredas na descarga do carro. Podemos citar como exemplo dessa realidade os amados motores AP da Volkswagen, eles possuem comando de válvula na tampa do cabeçote do motor que, durante as décadas de 80 e 90, era item praticamente obrigatório para os preparadores que adoravam substituir o comando de válvulas original por um mais brabo, o que trazia até 20% a mais de potência, aqui destaquei os motores AP, porque a troca do comando de válvulas dos motores AP são relativamente fáceis, podendo  ser feita em poucas horas.

Com a popularização das turbinas, os comandos de válvulas acabaram sendo deixados de lado pelos modificadores e “tunadores”, visto que uma boa turbina pode até dobrar a potência do carro, tudo isso com pouca intervenção no motor. Mas, vale ressaltar, que para aqueles que querem intensificar ainda mais o desempenho do veículo, a injeção, os bicos, o comando de válvula e, até mesmo, um eixo de manivela forjado, são coisas importantes a se trocar.

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Atualmente, com o avanço das tecnologias da eletrônica e da engenharia mecânica, muitas coisas mudaram desde aquelas épocas em que o veneno clássico dos motores AP era a troca do comando de válvula, a transformação do carburador para abertura mecânica  e para finalizar o veneno um clássico e simples escape dimensionado . Esse veneno padrão como visto acima melhorava muito a performance do motor, mas traziam desvantagens como a perda da marcha lenta e o consumo elevado de combustível. Dessa forma a engenharia mecânica esforçou-se para criar uma solução que permitisse as válvulas ficarem mais tempo aberta, mas não desperdiçassem o valioso combustível, e a solução veio na criação dos  motores dotados de variadores de fase do comando de válvulas, dessa forma, dependendo do regime de trabalho do motor, há uma variação no comando, deixando as válvulas mais tempo abertas quando necessário e contrabalanceando isso com válvulas mais tempo fechadas também. Isso, além de tornar o motor mais eficiente, contribui para uma menor emissão de gases do efeito estufa, um carro mais econômico e mais potente, como é o caso do motor que equipa o  Honda Civic SI.

           

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Agora que você já sabe a diferença entre eixo de comando de válvulas e eixo de manivela. Da próxima vez que você parar em um sinal e ao seu lado estiver um Gol G1 sem marcha lenta, cheirando a combustível e chacoalhando você pode estar ao lado de um carro mal regulado ou quem sabe ao lado de um motor preparado no qual teve seu comando de válvula substituído e ainda usa o velho e bom carburador de abertura mecânica…

           

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