Onde estavam os carros novos?

por Plinio Calenzo

Em meio a tantas mudanças relacionadas à tecnologia, economia e saúde, no Brasil e no mundo, as mudanças drásticas do mercado automobilístico poderiam passar despercebidas para o cidadão comum. Mas para os aficcionados por carros, como nós, pairaram as perguntas:

  • “O que está acontecendo com o mercado de carros brasileiro?”
  • “ Por que as autorizadas pareciam estar sem carros novos?”
  • “Por que os preço dos usados subiram ao ponto de um carro com 2 anos de uso em 2021 estar tão caro, mais do que em 2019?”
  • “E o que podemos esperar para o futuro?”

Essas perguntas foram abordadas pela BBC News de São Paulo em uma reportagem onde foi esclarecido que, na realidade, vivemos uma crise “sem precedentes” em 2021 no fornecimento de peças e componentes, aliada à queda da demanda no mercado interno devido ao agravamento da pandemia, culminando em 13 das 23 montadoras que atuam no Brasil estarem parcial ou totalmente paralizadas e 29 das 58 fábricas de peças no país estarem paradas nesse momento.

Várias interrupções nas montadoras ocorreram durante os anos de 2020 e 2021, de acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares, entre janeiro e fevereiro. Durante a crise de falta de oxigênio em Manaus, ao menos quatro fabricantes de motocicletas da Zona Franca paralisaram temporariamente a produção.

Com a produção parada, especialistas no setor automotivo estimaram que até 300 mil veículos poderiam deixar de ser produzidos naquele ano. E entre 60% e 70% dos cerca de 105 mil empregados diretos do setor ficariam ou ainda permaneceriam em casa como consequência da Covid-19.

De fato, os especialistas concordaram que um dos dois principais motivos que levaram à onda de paralisação nas fábricas automobilísticas brasileiras foi a falta de peças. Resultado de má logística internacional, problemas de suprimento (principalmente de semicondutores), associado a um déficit de produtos (a China é o maior produtor de chips do mundo) devido à recuperação da economia chinesa, que priorizou o mercado interno em sua retomada em detrimento da exportação. O segundo motivo foi a diminuição natural das vendas em função da paralisação dos grandes centros urbanos pela segunda onda da Covid.

Dessa forma, aplicou-se a antiga e pragmática “lei da oferta e da procura”: menos carros nas linhas de montagem causa escassez de veículos e o aumento no preço devido ao mercado não conseguir suprir a demanda por carros novos. O cliente que não encontrou seu carro novo partiu para o mercado de seminovos, aumentando a oferta dessa linha específica de veículos, fazendo com que todo o mercado automotivo tivesse um substancial aumento de preços.

A já chamada “crise dos semicondutores” não ocorreu somente no Brasil; no maior mercado do mundo, Estados Unidos, as montadoras amargam do mesmo problema. Podemos citar como exemplo o Chevrolet Corvette C8 que poderia ser comprado em seu lançamento em 2019 por cerca de sessenta mil dólares. Dois anos depois e já usados, os preços estavam próximos de cem mil dólares.

Tudo leva a crer que em breve teremos o mercado devidamente regulado com o aumento da oferta de novos carros e com a reabertura das montadoras; só esperamos que as montadoras não tenham se acostumado com os elevados preços de venda da atualidade e resolvam mantê-los.  É necessário comentar isso, porque em 2021, apesar das crises da SARS-CoV-2 e dos semicondutores, a General Motors anunciou um lucro substancialmente maior do que no mesmo período do ano passado, mostrando que a montadora, além de conseguir equilibrar suas contas em plena crise, ainda auferiu ganho, o que foi bom para os seus acionistas e mostrou que a companhia vinha sendo administrada de forma resiliente e proativa.

E você leitor? Pretende trocar de carro em 2021 ou prefere aguardar para saber como se comportará o mercado após o término das crises da Covid e dos semicondutores?

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