Edsel Ford e a Lincoln Motor Company
Parte 1
Há muito que a Ford sempre esteve presente na vida dos brasileiros.
Há mais de 100 anos atrás, as madames assustadas e os cavalheiros de colarinho duro, bengala e palheta olhavam curiosos para o fim da rua. Lá vinha roncando uma coisa esquisita, montada sobre quatro rodas.
E, ao volante, todo satisfeito, o motorista assumia ares de verdadeiro herói!
Assim nos contaram como foram as primeiras impressões sobre uma das maiores invenções da humanidade: o automóvel.
“Essa gente não sabe mais o que inventar”, exclamava um. “Dizem que vão fabricar essa geringonça aqui”, comentavam outros, cochichos eram ouvidos nas esquinas, nos botecos e nos saraus. O aparecimento do automóvel em São Paulo causou uma mudança radical na vida da pequena cidade. Uma cidade que se limitava apenas à indústria do tecido. O resto era importado. Sabonetes, perfumes, ferramentas, tudo vinha de fora. Era uma cidade que namorava as “novidades do estrangeiro”.
Lá nos Estados Unidos, os primeiros Modelos T fabricados por Henry Ford deixaram a população fascinada.
Aqui no Brasil, esses carros foram importados pelo primeiro revendedor Ford no Brasil, William T. Right, que tinha agência instalada na rua Florêncio de Abreu. Foi ali que a Ford se instalou em 1919, tornando-se a primeira fabricante de automóveis no Brasil.
Desde o início, a empresa foi responsável por inúmeros avanços que tornaram os carros mais eficientes e seguros e contribuíram para a industrialização e o progresso econômico e social do país.
Voltando aos Estados Unidos, um evento automobilístico não passa despercebido: o Pebble Beach Concours d’Elegance é “o carro-chefe” da Pebble Beach Automotive Week.
Iniciado em 1950 e considerado “a principal celebração do automóvel do mundo”, este é o evento definitivo para todos os entusiastas de carros. Todos os anos, os melhores carros de colecionador se reúnem no 18º Fairway de Pebble Beach Golf Links para competir e serem nomeados “Best of Show” – o prêmio máximo para automóveis. Enquanto alguns especialistas criticam pelo “excesso de elegância, mérito técnico e história”, uma multidão vêm de todos os cantos do mundo para torcer por seus favoritos. Em conjunto com a competição entre automóveis históricos extraordinários, o Concours também serve como anfitrião de alguns dos conceitos mais esperados e estreias de carros novos. Continuando, o dia 4 de fevereiro de 2022 marcou o 100º aniversário da compra da The Lincoln Motor Company pela Ford Motor Company.
Dentre tantas narrativas sobre a Ford e sua história, relatarei aqui algumas delas.
Sabe-se que o resultado real dessa compra é que, por mais de 100 anos, os produtos da Lincoln refletiram o senso de design de um verdadeiro visionário da indústria automotiva, Edsel Ford. O DNA da marca e seus veículos desde os primeiros dias foram baseados no senso de graça, beleza, arte, espírito e design de Edsel Ford.
Antes de falar dos veículos, será muito interessante divulgar, inicialmente, a história da relação entre a Ford e a Lincoln.
E, nesse momento, agradeço a Ford e tantos que registraram para a posteridade esses incríveis momentos. Dos seus trabalhos, extrairei algumas passagens que se seguirão.
Henry Leland fundou a Lincoln em 1917, depois de deixar a GM e a Divisão Cadillac, em um movimento patriótico para construir motores de avião durante a Primeira Guerra Mundial. Leland nomeou a empresa em homenagem a Abraham Lincoln, que ele afirmou ter sido o primeiro presidente em quem votou. A empresa construiu motores Liberty V12 durante a guerra sob um título governamental de US$ 10 milhões. Após a guerra, contando com sua experiência anterior, Leland mudou a produção para automóveis, com a empresa finalmente produzindo o Modelo L em 1920.
Infelizmente para Leland, a Lincoln foi atormentada por problemas de produção e design. Os clientes que fizeram pedidos para o Modelo L esperaram até um ano para receber seus carros e, embora a reputação de engenharia fina de Leland fosse bem merecida, o estilo do Modelo L era monótono e não tinha apelo para os compradores de carros no ambiente pós-guerra. Dados esses fatores, a Lincoln Motor Company sofreu financeiramente e em 1922 entrou em concordata com quase US $ 8 milhões ainda devidos aos principais credores.
A pedido de Edsel e sua esposa Eleanor, e sua própria esposa Clara, Henry Ford foi convencido a fazer uma oferta pela Lincoln. O preço final de venda foi fixado em $ 8 milhões, que foi usado para pagar os principais credores da The Lincoln Motor Company. A data de venda foi definida como 4 de fevereiro. Edsel Ford foi nomeado presidente da empresa logo depois.
Em uma de suas primeiras jogadas, Edsel mostrou seu verdadeiro caráter ao autorizar dinheiro adicional após a compra dizendo: “além disso, pagamos voluntariamente todos os credores gerais. Esse valor adicional, que soma mais de US$ 4 milhões, foi pago puramente por generosidade e sem qualquer obrigação de fazê-lo. Além disso, uma doação de US$ 363.000 em dinheiro foi feita ao Sr. Henry M Leland em seu septuagésimo nono aniversário, o que equivalia ao seu investimento na antiga empresa. Foi um presente de aniversário e tanto, ajustado pela inflação seria comparável a mais de US$ 6 milhões hoje.
O impacto da gestão de Edsel Ford na Lincoln foi tão profundo quanto suas decisões de negócios. Uma citação muito usada na época que “Ford fez o carro mais popular do mundo” levou Edsel a querer “fazer o melhor carro do mundo” e tornou-se a visão operacional da The Lincoln Motor Company, rapidamente perceptível nos veículos e na publicidade da empresa.
Ao contrário das preocupações de Henry Leland no momento da venda, Edsel não só abraçou a qualidade na engenharia dos carros, como trabalhou para melhorá-los. Ele também entendeu que “um Lincoln não apenas precisa funcionar perfeitamente, mas também deve parecer perfeito”. Com esse objetivo em mente, Edsel começou a utilizar os serviços dos maiores construtores de carrocerias da época. Nomes que marcaram a história automotiva como Brunn, Judkins, Fleetwood, Holbrook e LeBaron começaram a construir as carrocerias personalizadas cobiçadas pelos clientes da Lincoln, elevando o prestígio da marca; mudou a maneira como a Lincoln operava, encomendando alguns estilos de carroceria em lotes de 50 e 100 unidades, oferecendo luxo a um preço relativamente acessível.
As vendas na Lincoln refletiam as mudanças radicais que Edsel Ford estava fazendo quando 5.512 Lincolns foram vendidos no ano seguinte à compra, efetivamente dobrando o que os Lelands conseguiram vender nos 17 meses anteriores.
O Modelo K foi introduzido em 1931 para substituir o Modelo L, que estreou sob a propriedade de Lincoln de Leland. Para 1932, o Modelo K foi dividido nas séries Modelo KA e KB. O KB era a distância entre eixos mais longa com 145″ e ostentava um motor V-12 de 447 pés cúbicos. O emblema da série KB ostentava um fundo azul, enquanto o KA tinha um fundo vermelho. Havia, então, quase duas dúzias de estilos de carroceria padrão e personalizados disponíveis.
Em 30 de maio de 1932, Edsel Ford dirigiu um roadster Lincoln KB Murphy como carro de corrida nas 500 Milhas de Indianápolis.
Alguns dos designers de carroceria personalizados foram Derham Body Co., Willoughby, Brunn, Dietrich, Murphy, LeBaron e Judkins. Eventualmente, o Modelo K foi descontinuado após 1939, pois os preços e os gostos mudaram.
Aguardem pela continuação dessa história…