Em 1984 a 1ª geração do Uno foi apresentada ao mercado brasileiro, ainda não era o famoso Uno Mille mas foi o primeiro passo da Fiat para o estabelecimento desse queridinho nacional. Entretanto, nosso Uno, com seus 37 anos de produção no Brasil, se despede de nós em 2021 com um modelo especial comemorativo: CIAO UNO!
O lançamento de uma versão comemorativa no encerramento da produção dos seus veículos é algo comum para a Fiat, já vimos antes com o Gracia Mille (“obrigado” em italiano) na despedida do Mille e agora na despedida do Uno com o Ciao Uno (“tchau” em italiano).
Contudo há uma curiosidade nessa versão, enquanto que a palavra Gracia não deixa dúvidas, a palavra Ciao não tem seu significado traduzido literalmente para o português, servindo tanto para um cumprimento de despedida quanto de chegada, ou seja, será que o Uno está chegando ou partindo?
Embora possamos especular com esperança sobre um novo Uno, talvez sob outro nome, sabemos que realmente o Uno se despede do mercado, fato que já vinha sendo discutido pela montadora há vários anos.
A série de despedida do Uno vem com cores diferenciadas na padronagem dos tecidos, rádio com bluetooth e entrada USB, vidros elétricos (nas portas dianteiras), console de teto com porta-óculos e espelho para vigiar o banco traseiro, igual aos que vinham na Dobblo. O preço veio puxado, custando quase R$85.000,00 para adquirir o último Uno brasileiro. Serão produzidos apenas 250 Ciao Uno. A ideia da montadora é, de fato, pegar a gama de collezionisti (“colecionadores” em italiano).
A julgar pelas saudades deixadas pelo Uno, é difícil imaginar como a vida da Fiat não foi fácil quando ela chegou no final da década de 70 no Brasil. Seu primeiro carro produzido nacionalmente, o Fiat 147, teve muita dificuldade de agradar o brasileiro, que estava acostumado a outros tipos de carro. A mudança de jogo para a Fiat se deu em 1984 quando ela lançou a sua “botinha ortopédica”, o Fiat Uno.
O Uno ganhou o coração dos brasileiros quase imediatamente, com seu ar despojado e podendo ser usado por toda a família, a Fiat conseguiu livrar-se dos estigmas de “carro urbano” ou “de mulher”, estereótipos comuns nas décadas de 70 e 80.
Tão logo a Fiat percebeu o sucesso do Uno, começaram a surgir todos os tipos de versões, alguns com traseira sedã (Fiat Premio) outros sem traseira e com caçamba (Fiat Fiorino), perua (Elba), entre tantos outros queridos. Afinal, se contarmos quantas versões de Uno existiram chegamos as casas das dezenas. Em questão de motorizações passou da 1.0, 1,3, 1.4, 1.5, 1.6 – suas versões esportivas como a 1.5/R, 1.6/R e a tão desejada TURBO, que foi o primeiro carro de produção nacional equipado com turbo-compressor no Brasil.
Fiat Uno Turbo (1994)
Algumas versões não vieram da montadora, mas da criatividade do brasileiro que se apaixonou pelo Uno.
Apesar das desejadas versões esportivas, nã há duvida que a versão de maior sucesso do Uno foi o Mille. Lançado inicialmente em 1990, fez tanto sucesso que apesar do lançamento do Novo Uno a Fiat manteve a produção do Uno Mille, extinguindo o nome Uno, ficando apenas Mille. Foi uma estratégia inteligente, afinal já era o nome usado pelos proprietários, quando perguntava-se “qual o seu carro?” A resposta era invariavelmente “eu tenho um Mille”.
O Uno marcou gerações no Brasil e é justamento no nosso país reside maior sucesso do carro. Na Europa o Uno foi lançado um ano antes de que no Brasil, com o nome de Panda, até hoje ainda é possível se ver alguns Pandas rodando na Itália, mas nada se comparou ao sucesso que fez no Brasil.
Mas afinal, por que o Uno fez tanto sucesso no Brasil?
Podemos citar sua mecânica que, apesar de não ser a mais confiável, não era difícil de mexer e superava bastante alguns de seus concorrentes de preço, ou quem sabe seu baixo consumo de combustível, ou ainda seu baixo custo de aquisição, todas essas possibilidades podem ter contribuído para o sucesso do Uno no Brasil, mas a grande vencedora motivadora para a enxurrada de Unos que tivemos em 37 anos de produção foi, sem dúvida, seu design.
Seu projeto começou a ser desenvolvido no final dos anos 70, fruto de uma competição entre dois centros de design europeus, cujo vencedor Italdesign Giuriaro, do projetista mundialmente conhecido Giorgetto Giugiaro, é a empresa que já desenhou alguns dos super-carros mais desejados do mundo, foi também quem projetou o Uno.
Mas se o Uno é tão bom por que ele vai ser descontinuado?
Ocorre que o Uno há bastante tempo vinha mostrando queda nas vendas, atribuída amplamente a uma mudança no perfil do consumidor que atualmente está optando por pequenas SUVs ao invés dos hachts, nesse cenário a Fiat se viu forçada a descontinuar a produção do Uno.
Mas como ocorreu com o Fusca e outros carros que foram sucesso de vendas por muito tempo, ainda encontraremos Uno rodando por nossas ruas e estradas por décadas a fio.
Ciao Uno vai con Dio!
E você o que achou da Fiat descontinuar o Uno?
A montadora acertou ou errou em tirar o Uno de fabricação?